O que as crianças veem na Internet?

05 SET 2022

Graças a tecnologia e aos algoritmos, hoje os motores de busca sabem exatamente o que mostrar, mas até que ponto isto é bom para as crianças? Elas estão expostas a conteúdos impróprios? 


Quando consideramos doenças mentais no quesito de comportamento on-line, nossos pensamentos podem nos levar ao cyberbullying, mas há outra preocupação muito mais significativa do que costumamos considerar: o fácil acesso às informações. Os mecanismos de busca nos dão acesso fácil a fontes de conteúdo cada vez maiores e novas, que, aparentemente, têm o potencial de serem ainda mais nocivas do que o cyberbullying. Os mecanismos de busca, juntamente com os computadores pessoais e a Internet, não são inerentemente ruins, mas não faltam razões para termos cautela. Embora tenhamos visto grandes saltos em seu desenvolvimento e em suas funções, será que nós, usuários da tecnologia, compreendemos os riscos associados ao seu uso?


Paradoxalmente, embora uma das maiores áreas de progresso na computação esteja relacionada aos algoritmos dos mecanismos de busca, algumas das maiores preocupações encontram suas raízes também neles. Com o aumento do uso de mecanismos de pesquisa, seu design evoluiu amplamente devido ao deep learning, localização e maior poder de processamento de dados. Essa combinação os tornou mais poderosos, facilitando que os usuários encontrem o conteúdo pelo qual estão buscando. No entanto, a possibilidade de conteúdo indesejado ou prejudicial aparecer ou ser solicitado e, potencialmente, perturbar os usuários também vem aumentando exponencialmente.

Os primeiros mecanismos de busca

Os primeiros mecanismos de busca foram construídos na década de 1990, seguindo a proposta bem-sucedida de Tim Berners-Lee para a “World Wide Web”. A maior parte de seu desenvolvimento crucial ocorreu durante a década de 1990. Contudo, os mecanismos de busca modernos, como o Google, agora são auto-otimizados, com algoritmos ajustados em tempo real e melhorias diárias na experiência do usuário para se adequarem aos usuários “modernos”.

Antes de as pesquisas no Google se tornarem o mecanismo de busca preferido, havia outro gigante: o Yahoo! Search. Fundada em 1994, a Yahoo! foi uma das pioneiras da web, oferecendo um diretório hierárquico de sites organizados por categoria – o Diretório da Yahoo!. No início, o Yahoo! Search só realizava pesquisas nesse diretório. Depois, passou a usar seu próprio rastreador para escanear a web e, posteriormente, apresentava resultados de outros mecanismos de busca, como Google e Bing. Uma das razões pelas quais o Yahoo não se destacou por muito tempo foi priorizar sites antigos e confiáveis em vez de aqueles mais novos e relevantes. Por outro lado, o Google trouxe novos conteúdos para seus usuários, tornando-se cada vez mais popular.

Com o tempo, os mecanismos de busca foram sendo ainda mais sofisticados e elaborados, além de móveis. Os usuários, muitos deles crianças, têm a web inteira à sua disposição, o tempo todo. Isso também significa que o potencial de acesso ou recebimento de conteúdo inadequado ou prejudicial é muito alto. A Internet é um espaço abrangente, que dá a vários grupos e comunidades a oportunidade de se unirem e escalarem sua influência para o bem e para o mal.

Não é uma busca na biblioteca do bairro

Uma coisa pode levar à outra, e uma criança, menor de idade ou mesmo um adulto pode falhar, atrair ou visualizar conteúdos que podem ser prejudiciais. Esse é um debate que existe desde a criação dos primeiros mecanismos de busca. É um problema crescente: o conteúdo potencialmente nocivo fica disponível nas mídias sociais, fóruns on-line, sites e anúncios.

Agora, de volta à evolução dos mecanismos de busca. Para melhor atender os usuários, os mecanismos de busca e as redes sociais passaram a utilizar a busca preditiva e a monetização. Assim sendo, os algoritmos dos mecanismos de busca começaram não só a localizar o conteúdo, mas também a sugerir. Esses desenvolvimentos são usados por grandes plataformas sociais e empresas de busca para gerar receita por meio de anúncios (por exemplo), mas também para “alimentar” os usuários com conteúdo que tem o potencial de ampliar, ainda que artificialmente, seus interesses. Dessa forma, o comportamento de pesquisa informa as páginas “personalizadas” ou “sugeridas”. Isso pode ser especialmente problemático para crianças e jovens adultos, cujos interesses e personalidades, muitas vezes, não estão totalmente formados.  Esse padrão expõe as crianças e seus interesses à monetização imediata e futura.

Quando a “busca” fica pessoal

Cuidadores e educadores devem estar cientes dos perigos on-line que esperam as crianças e devem ter conhecimento suficiente para ajudá-las. Para destacar a correlação direta entre a pesquisa baseada em comportamento e os resultados fornecidos, basta considerar a facilidade com que um vídeo da moda, no estilo “O que eu como em um dia” pode levar você a um fórum on-line pró-anorexia, seguindo a um grupo de thinspiration (“motivadores do emagrecimento”) ou, até mesmo, a um tópico repleto de dicas para autoflagelação ou outro tipo de conteúdo explícito.

Os problemas sociais e a tecnologia evoluíram a um ponto em que pará-los se tornou uma tarefa difícil. Os algoritmos trabalham, incansavelmente, para oferecer aos usuários conteúdos que julgam ser interativo e divertido. Portanto, devemos fazer tudo que está ao nosso alcance para proteger as crianças, os menores de idade e, também, a nós.

O tema chamou a atenção não só da mídia popular, mas também de alguns governos que reconhecem o perigo que isso acarreta. A história de Molly Russell foi uma das primeiras a trazer o assunto à tona e forçou as pessoas a se manifestarem. Embora as plataformas mais populares de mídia social façam um grande esforço para proteger seus usuários, o rápido desenvolvimento dos negócios e da tecnologia acaba superando essas tentativas de proteção.

Alguns estados assumiram a responsabilidade de proteger as pessoas mais vulneráveis. No início de março de 2022, os legisladores estaduais de Minnesota decidiram aprovar uma lei que proibia plataformas de mídia social de usarem algoritmos para sugerirem conteúdo a menores de 18 anos. No entanto, a iniciativa encontrou forte oposição. Grupos de lobby da indústria de tecnologia dizem que aprovar o projeto violaria a Primeira Emenda da lei que rege os Estados Unidos, impediria as empresas de sugerirem conteúdo útil aos usuários e exigiria que as empresas coletassem ainda mais dados de seus usuários. Outro argumento contra isso é que a lei, por mais bem-intencionada que seja, prejudicaria a escolha dos cuidadores dessas crianças e restringiria o acesso a tecnologias úteis.

Ferramentas de prevenção

É natural que as crianças queiram passar tempo on-line, mas não devem fazê-lo sem supervisão. Uma ótima ferramenta para ajudar você a controlar o comportamento de seu(s) filho(s) on-line é o controle parental. Além de fornecer limites de tempo para que as crianças acessem determinados aplicativos e sites, você também pode bloquear tipos específicos de conteúdo e URLs para PC e dispositivos móveis.

Um dos melhores recursos do ESET Parental Control, incluído no ESET Smart Security Premium, é o Web Guard (filtro da web). Como os sites podem ser categorizados com base em palavras-chave, o Web Guard bloqueia categorias que considera inadequadas para a faixa etária de seu(s) filho(s). A pornografia adulta e sites de jogos de azar são bloqueados para todas as faixas etárias. Para dispositivos Android, há até um recurso de pesquisa segura que filtra os resultados do mecanismo de pesquisa para que você não precise se preocupar com mecanismos de pesquisa sugerindo conteúdo impróprio para as crianças. É possível, ainda, adicionar de forma manual a lista de sites proibidos e aplicativos que você considera inadequados para seus(s) filho(s). O mesmo se aplica à lista de permissões de recursos apropriados.

Mesmo que você comece a usar a ferramenta de controle parental, resta uma tarefa ainda mais importante: educar-se sobre o conteúdo que está disponível na web e conversar, regularmente, com as crianças sobre o mundo on-line e off-line. Conversar com seus filhos é uma das melhores ferramentas que você pode dar para que se protejam. A educação sobre qualquer assunto deve começar em casa. Isso é especialmente verdadeiro para assuntos pessoais e privados e nossa presença on-line.

Crianças e menores de idade merecem ser tratados com respeito e receber educação sobre as decisões que tomamos sobre eles ou para eles. Iniciar uma conversa sobre seu comportamento on-line pode dar a impressão de que estamos invadindo sua privacidade. Busque ter sensibilidade e se mostre à disposição para ouvir e compreender suas opiniões.

Autora: Alžbeta Kovaľová01, junho de 2022

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