Como conversar sobre o controle parental com as crianças

18 SET 2023

Para a maioria dos cuidadores, é importante que as crianças possam aproveitar as oportunidades do ambiente digital, ao mesmo tempo em que querem garantir a sua segurança. As ferramentas de controle parental auxiliam a alcançar esse objetivo. Mas de que formas podemos abordar o uso de aplicativos de controle parental com as crianças? Buscamos as respostas em colaboração com Jarmila Tomkova, psicóloga infantil.



Os cuidadores devem utilizar aplicativos de controle parental em segredo ou discutir abertamente sobre o uso dessas ferramentas com as crianças?

A longo prazo, o melhor caminho é a conversa aberta. Para que as crianças tenham uma compreensão nítida sobre as regras da família e de sua participação como parte dela, é necessário que os cuidadores sejam transparentes sobre a sua abordagem em relação à segurança digital. Além disso, ao serem sinceros sobre o uso de ferramentas de controle parental, a criança não se sentirá enganada, como poderia ocorrer caso descobrisse sobre as ferramentas.

 

Tipos de mediação parental do uso da internet

1 - Mediação capacitadora: Práticas parentais com o objetivo de possibilitar o uso positivo da internet pelas crianças.

a - Mediação ativa: Conversar com as crianças sobre o uso da internet, realizar atividades on-line em conjunto e explicar o que pode ser bom e o que pode ser potencialmente prejudicial na internet. A mediação ativa é a mais recomendável, pois está relacionada a habilidades digitais mais avançadas e capacita as crianças com as habilidades necessárias para interpretar e lidar com conteúdos midiáticos, bem como com situações possivelmente incômodas na internet.

b - Monitoramento técnico: Utilizar meios tecnológicos para monitorar o uso da internet pelas crianças, por meio de um software de controle parental. O monitoramento permite aos cuidadores conhecer a atividade on-line das crianças, como saber o que estão fazendo na internet ou com a tecnologia.

2 - Mediação restritiva: Práticas parentais com o objetivo de limitar o uso da internet pelas crianças.

a - Restrições: Estabelecer regras que limitam o acesso das crianças, como quais atividades podem realizar ou quanto tempo podem passar on-line. A mediação restritiva é eficaz na redução dos riscos na internet, porém, as crianças com mais restrições também tendem a desenvolver menos habilidades digitais, tornando-as menos preparadas para lidar com situações problemáticas.

Além da mediação parental, há também a mediação reversa – situação em que crianças com conhecimentos tecnológicos auxiliam os adultos em diversas tarefas ou problemas relacionados à tecnologia.

Fonte: Pesquisa EU Kids Online, 2020.



Como podemos explicar o uso de aplicativos de controle parental para as crianças?

Para usufruir dos diversos benefícios da internet, é necessário pensar na segurança. Os cuidadores não devem ser indiferentes aos riscos on-line, mas também não devem tratar a internet como um ambiente perigoso em sua totalidade. Devemos motivar o uso responsável da internet pelas crianças, empregando ferramentas que a tornem mais segura. Em vez de um sinal de controle, trata-se de um gesto de amor e cuidado. Quando a criança tem essa compreensão desde cedo, ela cresce entendendo que o uso de ferramentas de segurança, como o controle parental, não é uma opressão a ser contestada, mas um ato de amor.

“As ferramentas de controle parental não existem para tirar a privacidade das crianças. Elas existem porque amamos as nossas crianças e queremos cuidar da sua segurança.”



Quando se trata de estabelecer limites para o uso da internet, os cuidadores devem incluir as crianças na tomada de decisão?

Sim, principalmente com crianças mais velhas, com mais de dez anos. Será necessário conversar sobre os sites que elas desejam visitar e a quantidade de tempo que pretendem passar on-line. Quando as crianças participam das decisões, é menos provável que detestem as regras estabelecidas e se revoltem contra elas.



Mas algumas crianças ainda tentam ultrapassar os limites, certo?

Com certeza, especialmente adolescentes, o que também é perfeitamente normal. Algumas vezes, quando as crianças se rebelam contra as regras, os cuidadores percebem esse comportamento como um sinal de fracasso. Essa percepção, na realidade, é  um equívoco. É possível, por outro lado, considerar pequenos atos de rebeldia como um sinal da inteligência e capacidade de pensamento crítico por parte das crianças. Outra ideia comum, mas equivocada, é a de que os cuidadores devem sempre fazer as crianças felizes. As crianças não precisam ficar satisfeitas com as nossas regras, mas precisam sentir que as apoiamos e as protegemos, além de conversarmos com elas de forma aberta e oferecermos uma rede de segurança que está sempre ao seu alcance.



Ao utilizar ferramentas de controle parental, ainda é necessário conversar sobre os riscos on-line com as crianças?

O uso de aplicativos de controle parental não é uma desculpa para evitar uma conversa difícil. Pelo contrário, o uso dessas ferramentas pode conduzir a discussões importantes. Por exemplo, os aplicativos de controle parental podem alertar sobre uma tentativa da criança de acesso a um site restrito. Não há motivos para punição ou para tornar as regras mais rigorosas, mas pode ser um indício da necessidade de uma conversa mais aprofundada sobre alguns assuntos. Da mesma forma, o uso de aplicativos de controle parental não significa uma proteção completa em relação a conteúdos inadequados. As crianças podem ser expostas a esse tipo de conteúdo por meio de amizades, ou podem buscar em dispositivos públicos. No entanto, a combinação do uso de aplicativos de controle parental com diálogos abertos com as crianças pode limitar o acesso a esse tipo de conteúdo e reduzir o trauma que pode ser causado ao se depararem com algo perturbador ou impróprio na internet.

“É importante conversarmos com as crianças sobre a internet desde cedo. Devemos debater acerca dos diferentes conteúdos que podem ser encontrados on-line e permitir a aprendizagem das crianças. Além disso, também devemos permitir que nos ensinem sobre suas próprias experiências e nos contêm os motivos pelos quais gostam de estar on-line. Dessa forma, as crianças assumem uma participação ativa, tornando-se confiantes por saber que têm o suporte parental que necessitam. Os cuidadores devem proporcionar estabilidade, não apenas com regras e restrições, mas também por meio da empatia e comunicação aberta a longo prazo.”



Não é possível apenas confiar que as crianças não vão acessar sites inadequados ou se comportar de maneira insegura?

Confiança e proteção não se excluem mutuamente. Podemos confiar que as crianças sejam responsáveis e cautelosas, mas também devemos fazer o possível para garantir uma experiência on-line segura. Podemos até dizer: “quando usar o computador, você pode realizar diferentes atividades, como jogar, conversar com as amizades, estudar. Você tem liberdade e privacidade nesse sentido. Estamos apenas nos certificando de que outras pessoas, que não têm nossa confiança, não te prejudiquem”. Os aplicativos de controle parental não tiram a privacidade das crianças, apenas restringem o acesso a sites ou comportamentos que ultrapassam os limites de segurança.



E se as crianças disserem: “mas meus amigos e amigas podem passar mais tempo no celular e visitar o site que quiserem”?

Podemos afirmar que cada família é diferente, e que não está errado ter regras diferentes para o uso da internet. Por outro lado, caso a criança use esse argumento, podemos nos questionar: “nossas regras são razoáveis ou muito rígidas?”. E se questionar também é positivo. Ter acesso à informação é um direito da criança. No caso de impormos muitas restrições, tornando impossível seu acesso à informação, podemos estar violando seus direitos e dificultando a sua aprendizagem de lidar com a internet de forma segura e crítica. No entanto, ao pensar com cuidado e basear nossas regras na razão, teremos maior aptidão para explicar nossa perspectiva às crianças. Pode ser necessário aceitar que elas não fiquem totalmente satisfeitas com as nossas decisões, porém, surpreendentemente, esse não costuma ser o caso. A pesquisa EU Kids Online mostra que, na maioria dos países, a maior parte das crianças segue as recomendações dos cuidadores quanto ao uso seguro da internet. 

“Até mesmo Bill Gates ou Steve Jobs, algumas das pessoas mais famosas na tecnologia, limitaram o tempo de tela de suas crianças. Portanto, quando nossas crianças quiserem comparar sua situação com a de outras, podemos dizer que, até mesmo aqueles que inventaram essas tecnologias, sabem que elas precisam ser usadas de forma sensata e dentro de alguns limites.”



Se precisamos restringir o acesso das crianças à internet, significa que o ambiente digital é perigoso em sua totalidade?

De forma alguma. As oportunidades e os riscos estão frequentemente interligados. As redes sociais podem trazer diversos benefícios às crianças – elas podem se comunicar com amigos e amigas, expressar-se e explorar sua criatividade. Há, evidentemente, riscos dos quais é preciso estar ciente, como o cyberbullying ou o grooming (aliciamento infantil). Porém, uma perspectiva concentrada apenas nos perigos pode privar as crianças de diversas oportunidades. Aplicativos de controle parental permitem às crianças usufruírem dos benefícios da internet, ao mesmo tempo em que reduzem alguns dos possíveis riscos.



Fonte do artigo: SaferKidsOnline

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