Não ignore, denuncie: ensine seus filhos como reagir ao discurso de ódio e ao ciberódio

07 DEZ 2023

A internet oferece muito espaço para inspiração e discussões de qualidade. Ainda assim, você ou os seus filhos podem, por vezes, deparar-se com comportamentos que não são nada corretos, como o ciberódio: uma versão on-line do discurso de ódio. No direito internacional, ambas as formas de comportamento ofensivo são definidas como crime. Quando as crianças testemunham discurso de ódio ou ciberódio, ou quando são vítimas deles, como devem reagir? Veja o que a psicóloga infantil Jarmila Tomkova recomenda nesses casos.



Quais são alguns dos tipos de comportamento inadequado?

Discurso de ódio – A  Rede Internacional Contra o Ciberódio define discurso de ódio como:

- Declarações públicas discriminatórias e/ou difamatórias, intencionais ou não intencionais;

- Incitamento intencional ao ódio e/ou violência e/ou segregação com base em raça, etnia, língua, nacionalidade, cor da pele, crenças religiosas ou falta delas, gênero, identidade de gênero, sexo, orientação sexual, crenças políticas, status social, nascimento, idade, saúde mental ou física, deficiência, doença.

Ciberódio – discurso de ódio feito por meios eletrônicos (por exemplo, via SMS). Se estiver acontecendo na internet, pode ser chamado de discurso de ódio on-line.

Ciberbullying – a UNICEF define ciberbullying como:

- Bullying com tecnologias digitais, incluindo redes sociais, plataformas de mensagens, plataformas de jogos e telefones móveis;

- Comportamento repetido com o objetivo de assustar, irritar ou envergonhar as pessoas visadas;

- Em comparação com o discurso de ódio, no caso do cyberbullying, o agressor não necessariamente discrimina a vítima com base na identidade. Portanto, nem todo cyberbullying é considerado ciberódio.



“Curta, comente, compartilhe.”

A internet é um ótimo lugar, onde as crianças podem desenvolver e adquirir novos conhecimentos. Mas também existem locais na internet que espalham ódio e campanhas mal-intencionadas. Por que isso acontece tão facilmente? Na internet, as pessoas se comportam de maneiras diferentes do que fariam em situações do mundo off-line. Tendem a agir impulsivamente e estão sujeitas ao efeito da desinibição. Estão menos atentas às normas sociais, o que permite que a agressão seja extravasada com mais facilidade. “Ficamos mais indelicados uns com os outros, temos muito menos inibição e muitas vezes fazemos coisas com maior intensidade na internet”, explica Jarmila Tomkova. Portanto, é mais provável que as pessoas participem da disseminação do ódio on-line do que na vida real.

Na internet, as pessoas também ficam menos atentas ao ler as notícias. Tudo acontece de forma rápida e carrega muitas informações e comentários. Os usuários não conseguem pensar criticamente sobre tudo. Antes de ensinar os seus filhos a lidarem com o ciberódio, explique como o ambiente on-line funciona.

As informações se espalham rapidamente pela internet, por isso o ciberódio é potencialmente mais prejudicial do que o discurso de ódio fora do ambiente digital, uma vez que pode atingir mais pessoas com uma velocidade impressionante. “Em geral, o ciberódio pode ser prejudicial em três níveis. Prejudica o indivíduo, o grupo do qual a vítima faz parte e toda a sociedade em geral – ao criar uma cultura de ódio e intolerância”, exemplifica Tomkova. O comportamento classificado como ciberódio pode ter consequências graves, que vão desde multas financeiras até prisão.



Como responder ao ódio – tanto on-line como off-line

Seus filhos já sofreram com discurso de ódio pessoalmente? Aconselhe-os a encerrar a conversa com fatos.

“É importante não agravar o conflito, mas ao mesmo tempo adotar uma atitude passiva não é melhor escolha”, esclarece a psicóloga infantil Jarmila Tomkova. Seus filhos devem aprender a hora de tomar uma ação, acalmar a conversa e a encerrar com fatos. “Quem dissemina discurso de ódio não admite que as outras pessoas possam estar certas; não aceitam as opiniões alheias”, explica Tomkova. Às vezes, até as testemunhas se sentem ameaçadas e ficam do lado de quem tem mais “poder” – geralmente, quem está incitando ódio. Explique aos seus filhos por que nunca deveriam apoiar esse tipo de pessoa e, em vez disso, como podem apoiar a vítima.

Além disso, se os seus filhos testemunharem discurso de ódio, podem demonstrar que não concordam ao sair da sala juntamente com a vítima, por exemplo. Em alguns casos, seus filhos podem inclusive acompanhar a vítima até a delegacia. “Se eu testemunhar uma situação de ódio off-line e puder acompanhar a vítima, já será uma ajuda em termos psicológicos. A pessoa que sofre a agressão entende que não está sozinha ao pensar que o comportamento não é aceitável. Defender a vítima ajuda a criar uma narrativa de apoio e justiça”, argumenta Tomkova.

Geralmente, a parte mais importante é garantir que a vítima não esteja sozinha. Seus filhos podem encorajar amigos que venham a sofrer com discurso de ódio, por exemplo, deixando-lhes uma mensagem amável, incentivando-os a compartilharem seus sentimentos com os pais ou os ajudando a encontrar locais seguros a quem recorrer – por exemplo, uma linha de apoio ou um(a) terapeuta.

Na escola, o incidente deve primeiro ser comunicado às autoridades escolares. A instituição tem a obrigação de lutar contra o bullying e o ódio, bem como deve sempre garantir a segurança das crianças. Algum docente ou a própria diretoria devem, depois, entrar em contato com os responsáveis e a polícia. “As crianças podem ter medo de se dirigirem elas próprias às autoridades. Por isso, sugiro que haja caixas de correio para que relatos anônimos desse tipo de situação”, afirma a psicóloga.



Seu filho está sofrendo algum tipo de ciberódio? Ajude-o a relatar o ocorrido aos administradores do site.

Quando as crianças testemunham ciberódio, não devem compartilhar, curtir ou responder com um emoji. Essas ações apenas fazem o ódio se espalhar ainda mais rápido. Se decidirem interagir com o conteúdo, deverão usar a narrativa alternativa. Tal como na vida real – aconselhe-os a tentar encerrar a conversa com fatos. Discuta com seus filhos por que não devem simplesmente ignorar o que veem on-line.

Uma opção é fazer capturas de tela da situação envolvendo ódio e relatar o incidente aos administradores. Quanto mais relatórios os administradores receberem, maior será a probabilidade de que lidem com o incidente. Outra opção é bloquear o hater e mencionar a razão aos administradores. No entanto, é bom lembrar que os administradores podem ficar sobrecarregados com solicitações semelhantes e demorar para tomar alguma atitude. Portanto, se a situação for grave, também é recomendável denunciar o ocorrido à polícia.



Seu filho foi vítima de discurso de ódio ou de ciberódio? Incentive-o a compartilhar sobre a experiência.

Tente iniciar uma conversa aberta e ouvir seu filho. Busque entender seus sentimentos. Demonstre preocupação e leve a situação a sério. Como adultos, precisamos resolver o incidente e criar um ambiente seguro, ao mesmo tempo que apoiamos psicologicamente os nossos filhos. Juntos, vocês podem denunciar o incidente às autoridades competentes e, se necessário, procurar ajuda psicológica. Explique por que o discurso de ódio e o ciberódio não pertencem a conversas justas – e deixe que os seus filhos se tornem modelos para os outros.

Fonte: SaferKidsOnline.com

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